Sobre as comemorações do 25 de Abril em época de Pandemia


É com uma das obra icónicas de Vieira da Silva sobre o 25 de Abril que se faz esta pequena reflexão sobre o "problema" que, a julgar pelo que se tem ouvido e dito, não é problema nenhum.
É bastante triste, incompreensível e pouco racional toda a problemática que se gerou em torno das comemorações do 25 de Abril de 2020. No centro de uma pandemia que teve o seu início num dos locais ou regiões já tristemente famosos pela sua intensa actividade na sementeira, cultivo, promoção e divulgação/difusão dos fantásticos vírus saltitantes, que a data emblemática se irá realizar em território nacional.
Num país em que, a julgar pelos dados actuais, soube (governo e povo) conter ou atenuar as estatísticas de uma pandemia que, lamentavelmente, noutros países como a Itália, a Espanha, a França, a Holanda, o Reuni Unido mas, particularmente, os Estados Unidos, o pais "mais" rico do mundo, a inaptidão, ineficácia, infantilidade, visão controversa, arrogância extrema e má educação, do seu chefe de estado, aquele que, seguindo a tradição dos Monty Python, no "Em Busca do Cálice Sagrado", o seu nome não deveria ser pronunciado... ou então como o cavaleiro que diz "NI" (Knights Who Say "Ni!"), Donald, tal e qual o pato idiota, é o reflexo, em parte, de várias situações da vida contemporânea no mundo e, em particular, no Portugal de hoje.
Aparentemente, a situação das comemorações do 25 de Abril de 2020 dividem, sobretudo, uma parte do corpo político nacional. No entanto, pasme-se, o filho do saudoso Mário Soares, João Soares, perece estar contra as sessões comemorativas do 25 de Abril na Assembleia da República por razões de limitação de contactos por motivos da pandemia.
Diz então João Soares que "Não sei o que lhes deu para, com o país em estado de emergência e a maioria da população em confinamento doméstico, decidirem comemorar o 25 de Abril seguindo o figurino utilizado em tempos normais."... mais à frente, com a cereja no topo do bolo, o mesmo Soares que visitou, por várias vezes, em menino, o pai na cadeia, torna mais sólida a sua argumentação com a afirmação de que a comemoração "já não diz nada à maioria dos portugueses".
Tendo sido, independentemente das razões e dos motivos, ministro da Cultura, o filho de Mário Soares é bem um dos exemplos que nos levam a reflectir sobre a questão de já não conseguir sequer descortinar quem temos à frente na política e na vida civil.
Na generalidade, tenho-me deparado com pequenas e grandes surpresas que me deixam um tanto baralhado. No entanto, tenho que admitir que esse de quem se fala, poderia estar bem mais baralhados do que eu e que, devido à sua idade e à quantidade de informação que tem que assimilar e gerir, a cabeça já não consegue reflectir e ponderar sobre as palavras e ideias proferidas... Confeso que é bastante cansativo ouvir já certas pessoas que tiveram um passado de luta, um passado glorioso (em parte), proferir certas e determinadas afirmações. Não me refiro aqui propriamente ao filho de Mário Soares, no entanto, deveria, pelo menos, respeitar um pouco a memória e as dificuldades vividas e passadas pela sua família nos tempos do fascismo.
Por outro lado, a maneira como outros interlocutores políticos se manifestam sobre as comemorações é bastante aceitável. O caso do Paulo Portas é, por demais, bastante compreensível e até aceitável tendo em conta a maneira de pensar e o passado de Paulo Portas. No entanto, não deixa de ser interessante verificar que, em situações mais adversas, o mesmo Paulo Portas se vendeu a iniciativas que comprometia, de forma intencional, assertiva e bastante dinâmica os pescadores portugueses e todos aqueles que deles dependiam. Por outro lado, tampouco lhe interessou muito comemorar a compra de equipamento militar que depauperou o erário público com esquemas de corrupção e que, ao fim e ao cabo, encontra-se "em paro".
Lamentavelmente a sociedade actual caminha para uma deriva perigosa que, brevemente, vais ter graves consequências. Até compreendo que economistas, políticos, sociedade civil argumente em função de dados factuais sobre a economia, a finança e a política. Tem todo o mérito e, dependendo dos casos, toda a razão. No entanto, esses argumentos estabelecem-se ou incorporam-se em planos e sistemas como as agência de rating, avaliações realixadas por entidades que ganhas rios de dinheiro colocando paises em patamares artificiais e especulativos, empresas e governos que exploram trabalhadores em territórios asiáticos mas que, com o maior desplante, compram a EDP e outras...  em fim, como podem os argumentos da economia bem funcionar quando o plano onde se fixam é feito de lodo e pântanos.
As palavras de José Afonso, como gostava de ser chamado, são, nestas alturas, mais importantes do que nunca. Como já o teria dito Daniel Oliveira, comentados da SIC, as democracias vivem dos símbolos, das comemorações, da lutas. Apesar de José Afonso ter ficado frustrado com o caminho que a democracia estaria a toma, a verdade é que, hoje em dia e seguindo a filosofia do "Zeca", é necessário indignar-se com a indignação. Sem esquecer que a indignação contra a qual nos devemos indignar tera, ela mesmo, de ser "bacoca".
Decidi, em jeito de homenagem, colocar ainda a fotografia de um dos mais importantes elementos da democracia em Portugal: António Almeida Santos (1926 - 2016), um homem com carácter, um símbolo da luta e da apresentação de soluções e um homem de palavra e acção.
 
Almeida Santos (1926 - 2016) - alma-lusa

Gostaria ainda de relembrar, sobre esta polémica das comemorações, que a indignação contra  indignação "bacoca" e a irracionalidade é bem exemplificada nesta situação das comemorações do 25 de Abril de 2020. Há um enorme problema de contaminação na assembleia da República, estão todos preocupadissimos com o contágio na Assembleia da República, no entanto, parece não existir tanto problema em abrir os negócios, as creches, abrir o pais, e que a economia não pode parar, etc, etc, etc...
Em fim, para colocar um ponto final.... afinal, no dia de hoje, soube-se que já existem produtores de petróleo a pagaram para que lhes levem o petróleo... a irracionalidade nisto tudo é, no mínimo assustadora... a Arábia Saudita já paga para que lhe levem o petróleo que ele proporia produz... no entanto, o preço dos combustíveis não baixou... tem tudo uma lógica bastante sólida...


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